sexta-feira, 20 de julho de 2012

Era uma vez?


Uma princesa, um empecilho, um vilão, o príncipe encantado e o amor verdadeiro, final com “felizes para sempre”, magia. Eis os temperos de qualquer conto de fadas, antes somente livros, mas hoje transformados em filmes que vendem, e muito.

A Disney eternizou grande parte das histórias infantis, tornando-as clássicos do cinema e marcando a memória de milhões de crianças. Mas também fomentou críticas e mais críticas sobre como seus filmes e contos reproduziam uma sociedade patriarcal e opressora que limita a felicidade feminina, cumprir seu papel de donzela e ser salva por um príncipe. De fato, a Disney ajudou na construção do imaginário popular do que deve ser um romance, de como a mulher deve ser singela e doce e o homem, corajoso e destemido; mas teoria da conspiração também não cabe aqui, caros leitores. Se houve lucro com essas histórias é porque as pessoas queriam comprar essas histórias.

E nesse raciocínio de que nas telas se reproduzem os desejos de quem compra, não somente isso, é claro; podemos recordar das personagens da Disney nos últimos anos. Eu fui criança no final dos anos noventa e começo do século XXI e minhas princesas favoritas eram Mulan e Anastasia, nada de Branca de Neve (bobinha, bobinha, dormiu não sei quanto tempo para ser acordada) ou Cinderela (que o príncipe não soube reconhecer o rosto, por isso calçou o bendito sapato em não sei quantas). E devo dizer que devo muito a elas. 

Desde o lançamento de Mulan em 1998 (no qual a moiçola se faz passar de homem para ir à guerra no lugar de seu pai e assim salva a China dos Hunos, mas também encontra o amor num general do exército) a companhia fundada por Walt Disney vem apresentando personagens não tão convencionais. Acredito que é porque as mulheres já não são tão convencionais para engolir qualquer história. Temos Tiana, de A princesa e o sapo, que não é princesa,não é branca de olhos claros, sonha em abrir o próprio restaurante e trabalha duro para isso. Temos Alice, que na versão de Tim Burton de Alice no país das maravilhas volta à terra maravilhosa na fuga de um casamento indesejado, numa viagem de autoconhecimento. E Enrolados, no qual uma Rapunzel muito teimosa deseja conhecer o mundo, maravilhar-se com ele. O que há em comum entre essas heroínas é que elas não são salvas por ninguém, porque na verdade elas não precisam.

E nessa mesma linha é que Valente nasce, presenteando as crianças com uma história de coragem, um conto de fadas que não termina em romance. Merida, princesa das Terras Altas da Escócia, decide brigar por sua própria mão (que foi posta a prêmio num torneio entre os clãs de seu reino). A cena na qual ela se declara disposta a lutar por si mesma é algo muito belo. É só um filme, eu sei, é só um filme da Disney; mas fiquei arrepiada, e não tenho vergonha em dizer.

É claro que o romance e o amor fazem parte da vida de uma mulher, fazem parte da vida de qualquer ser humano, o que eu sempre quis e vejo agora nesse filme é a liberdade de escolher e não a ideia de que só nos resta isso. Feministas não são criaturas amargas que odeiam os homens, nada disso, nós só queremos ter a escolha de um ou de outro ou até dos dois (porque é possível, há feministas casadas e felizes com suas famílias que também trabalham e são independentes, juro). E ver Merida nas telas me fez acreditar que o futuro das meninas que eu vejo hoje é exatamente esse,  l i b e r d a d e.

Aqui links de outros textos sobre Valente ou contos de fadas, vale a pena se aprofundar!
Ativismo no Sofá | Escreva Lola Escreva | Sociological Images

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